Assassinatos de Dom Phillips e Bruno Pereira completam três anos

Há três anos, um duplo assassinato brutal marcava o Brasil e repercutia em todo mundo. O jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira foram assassinados em uma emboscada, no Vale do Javari, no Amazonas.
O território indígena onde ocorreu o crime, como vários outros no país, continua a conviver com ações ilegais de garimpo, desmatamento, tráfico de animais e drogas, além da invasão ilegal de terras.
Para marcar essa data, vamos relembrar um pouco sobre desses dois protetores da Amazônia.
Dom
Dominic Mark Phillips, ou Dom Phillips, nasceu na Inglaterra, em 1964. O jovem apaixonado por música, se transformou em jornalista, e desembarcou no Brasil em 2007. Apaixonou-se pelo nosso país e nunca mais voltou. ou a cobrir as mazelas brasileiras para jornais estrangeiros, o que o levou a conhecer a Amazônia.
O jornalista Daniel Camargos, parceiro de Dom Phillips em diversas coberturas sobre questões ambientais, fala um pouco do encanto do inglês pela floresta:
"O Dom nunca quis ser um mártir, o Dom era um repórter. Repórter mesmo, repórter desses que já existem tão pouco assim, de pé no chão, de ir ver in loco, de conversar com as pessoas. Ele tinha um encantamento pela Amazônia, até não sei se é essa palavra ideal, mas um deslumbre. E a medida que ele foi viajando, primeiro como turista, depois fazendo reportagens para a Amazônia, ele foi vendo que esse é talvez um dos assuntos mais importantes para um jornalista tratar hoje em dia. É um assunto fundamental que diz respeito ao futuro da gente, que diz respeito ao clima, né?"
Nessa jornada, em 2018, em uma expedição ao Vale do Javari, Dom conhece Bruno Pereira, que vira um parceiro nas viagens pela região.
Bruno
Bruno, que nasceu em 1980, em Recife (PE), se destacava pelo tamanho e pelo carisma. Tentou a carreira no jornalismo, mas deixou a faculdade antes de se formar.
Acabou buscando novas aventuras. Em 2004, foi para o Amazonas, trabalhar com reflorestamento em uma área degradada da Usina de Balbina. Conheceu os povos da floresta e se apaixonou pela região.
Em 2010, Bruno Pereira tornou-se indigenista, ao ar no concurso da Funai, quando seguiu para Atalaia do Norte, para a Terra Indígena do Vale do Javari.
Em sua trajetória, enfrentou o desmonte das políticas ambientais, aprofundadas com o governo de Jair Bolsonaro. Em 2019, Bruno foi exonerado da Coordenação de Indígenas Isolados da Funai, logo depois de comandar uma série de ações contra o garimpo ilegal. Foi o estopim para o indigenista.
Bruno se licenciou do cargo e ou a lutar ao lado dos povos em defesa da floresta, na União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Também ajudou a construir uma rede de vigilância e proteção do território.
Eliesio Marubo, coordenador jurídico da Univaja, lembra da trajetória de Bruno em defesa da Terra Indígena.
"O tamanho do Bruno não vai ser alcançado mais. Nós entendemos que pessoas como ele, com dedicação, como ele fazia, com entrega, como ele fazia, não existem mais hoje em dia. E tem a ver com outras questões mais humanas, mais profundas do que simplesmente tudo isso que todo mundo consegue ver. O fato é que o Bruno foi diferente em tudo, desde o início. Perdemos uma grande pessoa, sabemos que não teremos uma outra pessoa de igual nível, nunca mais, porque a sociedade está cada dia mais doente. Somente muita saudade, apenas isso."
Crime e legado
No dia 5 de junho de 2022, em uma nova expedição, Bruno e Dom retornavam para Atalaia do Norte quando foram mortos em uma emboscada.
Eliesio Marubo conta que pouco mudou no Vale Javari após a morte de Dom e Bruno. Mesmo com aumento de operações policiais, falta uma presença permanente do Estado para combater as organizações criminosas que atacam a floresta.
As inúmeras viagens do jornalista Dom Phillips eram a base para um livro que ele escrevia sobre a luta para manter a Amazônia de pé. Finalizado por amigos, o livro Como Salvar a Amazônia foi lançado na última semana.
Já o documentário Relatos de um correspondente da guerra na Amazônia retrata o trabalho de Daniel Camargos para contar a morte de Dom e Bruno e refletir sobre a cobertura jornalística na maior floresta tropical do mundo.
A mensagem que Dom e Bruno deixam é de que preciso olhar para os povos da Amazônia e que ainda há tempo para reverter os ataques e encontrar alternativas para uma nova relação com a floresta.





